segunda-feira, 20 de março de 2017

Jornalista Baby Garroux: quando Jaime Lerner fala ou dá entrevista eu paro e presto atenção....





E fez comparações interessantes entre Haddad e Doria. Todos conhecem Jaime pelas soluções que levaram Curitiba a ser considerada "cidade modelo" na década de 90, e deu uma senhora entrevista para a BBC Brasil abrindo espaço para muitas verdades.

"O brasileiro às vezes visita uma cidade europeia e fica encantado, mas ele vê a mistura de renda, de funções - tudo isso que é importante na vida de uma cidade. Ele fica encantado, mas não reproduz as soluções aqui. Quando ele chega aqui, volta a querer separar, a dar prioridade ao automóvel, a se entregar a soluções que não vão fundo no problema. Eu defendo ações rápidas e pontuais para resolver os problemas das cidades, a "acupuntura urbana" - e que demandam coragem e iniciativa das autoridades.”

Entre os principais trechos da entrevista de Lerner: Curitiba já foi considerada uma cidade-modelo, a mais verde do planeta..... “O que acontecia em Curitiba era um compromisso de inovação constante - no transporte público, meio ambiente, todas as áreas. E quando se para de inovar, as coisas decaem um pouco. Mas não é grave, pode ser retomado - a qualidade de vida que existia aqui pode ser retomada. Nem sempre a inovação é tecnológica. O que falta é a inovação na concepção das cidades. Existe hoje uma moda de falar em cidades inteligentes, smart cities, cidades competitivas e outras coisas mais. Isso muitas vezes é só "gadget", não é isso que importa. Atualmente os três grandes problemas da cidades ainda são os mesmos: mobilidade, sustentabilidade e a coexistência.”

O problema de mobilidade é uma questão de concepção da cidade. A cidade tem que ser uma estrutura de vida, trabalho, lazer, mobilidade, tudo junto. Toda vez que você tenta separar as pessoas - morando em um lugar, trabalhando em outro, forçando as pessoas a deslocamentos demorados e difíceis, as coisas não acontecem bem. Quando se separa a população por renda, idade, religião - tudo isso não contribui para a qualidade de vida da cidade. Precisamos trabalhar mais na concepção.”

Há excesso de burocracia que, em geral, é uma rotina que aqueles que não têm conhecimento procuram forçar, e acaba com a criatividade. A burocracia serve para aqueles que, em vez de fazer, criam normas à procura de um protagonismo sem conhecimento. Isso também prejudica muito as soluções nas cidades no Brasil. Os governos não fazem, então toda vez que uma vizinhança resolve fazer algo num parque, ajuda uma praça ou cria uma solução por iniciativa que parte da própria comunidade, as autoridades acham que estão descobrindo o mundo.”

O Brasil teria todas as condições para dar grandes exemplos para o mundo. No entanto, nunca tivemos tão perto - e nem tão longe. Na verdade, é o medo de começar. É querer ter todas as respostas e aprovação de todos que leva a decisões políticas equivocadas. Isso é comum hoje no Brasil. O Brasil poderia ser um grande exemplo na área de mobilidade, mas não é porque seguimos complicando o problema, procurando implantar aquilo que em outros países já é obsoleto. Esse movimento de copiar o obsoleto faz você comprá-lo como última novidade.”

Em São Paulo, mais de 80% das pessoas se deslocam na superfície e poderíamos ter um sistema de qualidade na superfície, poderíamos "metronizar" o ônibus. Com uma ou duas linhas de metrô, se for necessário, com um bom sistema de superfície, com bicicleta e carro compartilhados. A integração de todos esses modais é que leva a um bom sistema de mobilidade. O problema no caso do Haddad foi a equipe dele. O Dória está procurando fazer a cidade a agir com a iniciativa privada e com a população. O Haddad teve boas iniciativas, mas muito pouco foi efetivamente realizado, como as propostas de uso do solo. Coisas que não acontecem não têm efetividade.”

Ouvi coisas de arrepiar no Brasil: metrôs em cidades para resolver o problema da Copa do Mundo. A Copa do Mundo foi um desastre, não só para o futebol como para as cidades que seguiram essas diretrizes de mobilidade, de fazer uma linha de metrô em Teresina, ou ligar um aeroporto a um estádio de futebol - soluções caras e que não atendiam a população. Estamos vivendo uma época nova, quando as coisas na Olimpíada caminharam bem melhor. No Brasil, algumas coisas aconteceram bem no Rio de Janeiro, porque houve coragem. Além de Curitiba, gostaria de citar o exemplo de Medellín, na Colômbia, e também de Bogotá, a Cidade do México, Seul, Istambul e 250 cidades na China, Estados Unidos e Europa que adotaram o BRT, que é um caminho mais rápido para se melhorar a qualidade do transporte, e com gasto muito mais baixo. Então você pode fazer um sistema de boa qualidade, em menos de três anos, a um custo de 20 a 50 vezes mais barato que o metrô.”

Se todos nas cidades usassem menos o automóvel, separassem o lixo, e morassem mais perto do trabalho, o problema de sustentabilidade e de qualidade de vida já estaria resolvido. É na cidade que podemos dar uma resposta mais rápida e melhor, conscientizando todas as pessoas.”


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