O encontro sobre o tema
foi dirigido por Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de Ciência e Saúde
do Oregon (noroeste dos EUA).
O CRISPR permite
eliminar do genoma determinadas sequências de DNA indesejadas, como
genes que predispõem a algumas doenças. Mas teve opinião contrária do
oncologista indiano Siddhartha Mukherjee vencedor do prêmio Pulitzer em
2010 por sua biografia do câncer (‘O Imperador de todos os Males’), alertando
sobre os perigos que essa tecnologia representa.
No último congresso de
câncer, realizado em Chicago, Mukherjee propôs diante de milhares de médicos: “Os
testes genéticos permitiram descobrir mutações que podem predispor a sofrer um
tumor e em muitos casos melhorou o prognóstico. No entanto, também corre-se o
risco de transformar o câncer em uma instituição total na qual o paciente é
“constantemente vigiado” e a quem se recorda com frequência demais a ameaça da
morte. É um caso em que o conhecimento do genoma pode condicionar a forma de
viver nossa vida.”
Voltou a memória o que os
nazistas fizeram com a ideia da genética para limpeza racial e os soviéticos a
rechaçaram, negando evidência científica.
“A eugenia privatizada desmantelado
a eugenia estatal não significa que não sejamos capazes de propor as mesmas
escolhas individualmente, e é igualmente perigoso. Acho que estamos
rumando lentamente para uma nova era. Há poucos meses, a Academia Nacional de
Medicina dos EUA tomou uma decisão muito interessante e muito importante.
Estava-se debatendo se as alterações genéticas podiam ser permitidas em
espermatozoides, óvulos e embriões humanos. Até agora, no Ocidente, decidimos
que a engenharia genética é aceitável em células humanas desde que não mude
permanentemente o genoma humano. Se em seu corpo você muda as células do sangue
ou os neurônios ou as células do câncer, tudo isso não faz com que as mudanças
se tornem parte permanente do genoma humano.”
A academia decidiu
permitir isso, mas, “alguns são muito autônomos e para essas doenças em
que há uma causa direta entre gene e a doença poderíamos tornar essas mudanças
permanentes.”
“ Não tenho nenhuma
dúvida de que no futuro será possível encontrar uma relação entre doenças como
a esquizofrenia ou o transtorno bipolar e talvez 10 ou 20 variantes de genes
que, combinados, podem predizer que o risco de alguém sofrer essas doenças se
multiplica por 10 ou 20. Se eu puder
fazer algo a respeito, seguramente sim. Se não, preferiria não saber. Já
fazemos isso com a síndrome de Dawn, mas poderíamos começar a descartar
particularidades genéticas muito mais sutis. Já fazemos isso. Quase não nascem
mais pessoas com síndrome de Down.”
“A fronteira entre a
doença e a normalidade, uma linha que mudou durante nossa própria vida. A
homossexualidade era considerada uma doença até pouco tempo atrás. Vinte anos
depois, no ocidente, percebemos que é fundamentalmente uma variação humana. Em
muitas sociedades ainda é considerada uma doença e você pode ser morto por
causa disso. As linhas entre a normalidade e a doença são flexíveis. A pergunta
é como começaremos a saber o que significa um sofrimento extraordinário para
você. Quem pode definir isso? O Estado vai fazer uma lista. As linhas são flexíveis.
Quem vai delimitá-las?”....
“Nossa decisão para
intervir nisso não pode ser tomada apenas por cientistas. Tem que ser um
processo político muito mais amplo. E para fazer isso precisamos do
vocabulário, dos antecedentes, da história, e precisamos compreender as
limitações e pensar sobre o futuro.”
“Se não reconhecermos a
transição, cometeremos muitos erros horríveis. Não quero restringir o
conhecimento, mas sim reconhecer a anatomia do conhecimento.”
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