O Festival Internacional
de Documentários ‘É Tudo Verdade’ através de Amir Labaki anuncia a programação
da 19.ª edição do evento que coordena (entre os dias 3 e 13 de abril) com
homenagem simbólica, lembrando a importância de Coutinho para o documentário
brasileiro e o fato de ele ter sido sempre um amigo do evento.
Documentário top sobre
um dos ícones do século 20, BB – Brigitte Bardot. Bardot – La Méprise (Bardot
– A Desprezada), de David Teboul, integra a mostra Programas Especiais do
festival e já tem duas sessões previstas, nos dias 7 e 8 de abril, no Cine
Livraria Cultura.
O filme fez história na
França e atraiu mais público ao ser exibido na TV, pela Arté.
O diretor fala do É Tudo
Verdade, de Brigitte e do próximo projeto, baseado na correspondência de Antonin
Artaud: “Na verdade, é preciso esclarecer que se trata de uma falsa encomenda.
Sempre quis fazer um filme sobre ela. Desde que me iniciei nesse mundo do
cinema, e me tornei documentarista, sempre pensei num filme sobre Brigitte
Bardot. Garoto, sonhava com sua imagem sensual e, adulto, sempre me
impressionei com essa mulher que um dia jogou tudo para o alto. O Desprezo/Le
Mépris, de Jean-Luc Godard, é o maior papel de Brigitte. Godard, de alguma
forma, intuiu que ela largaria tudo. E se trata de um grande, de um imenso filme.”
As pessoas tem a
tendência de desprezar Brigitte porque se tornou uma velha excêntrica. Uma senhora
dama eu diria, que vive isolada com seus animais. Uma mulher que abandona tudo,
que se recusa a viver seu destino imposto pela sociedade, mesmo que seja a
sociedade do entretenimento.
A própria Brigitte é a
grande ausente de seu filme. Ela fez apenas uma exigência, não aparecer. “Ela
abriu suas casas míticas em La Madrague, e me franqueou as centenas de
horas de filmes domésticos que seu pai fez desde que ela era bebê, muito antes
de virar BB. E eu tinha os filmes que esculpiram sua imagem. Eu já queria fazer
um documentário sobre ela, mas sem Brigitte. Isso facilitou muito as coisas. Tenho
dois recitativos, dois textos. Um é feito de minhas reflexões, até de minhas
obsessões por e sobre ela. O outro são textos da própria Brigitte em seu livro
autobiográfico, e que são lidos por Bulle Ogier."
Brigitte, la méprise, c’est Brigitte, la tragedienne.
“Brigitte
sempre foi trágica. Do que tratam as tragédias? De relações familiares. E
Brigitte, que desde criança foi sempre ligada aos animais, desprezou a própria
maternidade. Seu filho Nicolas, que teve com Jacques Charrier, foi abandonado
por ela. Como revanche, ao virar adulto, ele foi morar na Escandinávia, longe
dessa mãe que o rejeitou. Até nisso ela foi trágica. No início ela era uma
mulher-criança, que assumia sua sexualidade com inocência, quase sem
consciência de estar se desnudando, de estar provocando os homens. Foi o que
fez da jovem BB um furacão que assolou o mundo nos anos 1950. As vamps
americanas eram fatais. Brigitte parecia infantil, fazendo beicinho. Só que as
iniciais BB colaram nela como ferro, e ela fez o que pôde para se desvencilhar.”
“Não gostaria que Bardot
– La Méprise fosse visto como obra sensacionalista, porque não é. É um
filme sobre o fantasma, sobre a ausência, como você define. Mas a todo momento
temos a impressão de que Brigitte vai romper o isolamento e surgir. Ela
aparece, por sinal, fugazmente, meio na sombra, com seus bichos. O acordo foi
cumprido até o fim porque é o conceito do filme.”
No caso de Brigitte,
poderia ter feito um filme de entrevistas, porque tem muita gente viva, até ela,
mesmo que não esteja interessada em falar.
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