Demitida
do governo em setembro deste ano, ficou em silêncio ate agora. Mas, a
ex-ministra da Cultura Ana de Hollanda decidiu falar: "Tinha que mostrar
essa volta por cima", diz, encostada numa janela com vista para o mar no
apartamento do irmão Sergio Buarque de Hollanda Filho, o Sergito, em
Copacabana, no Rio.
A ex-ministra compôs uma canção-resposta sobre sua saída do
ministério. "Para Voltar" tem doze versos. O samba, foi apresentado
em primeira mão ao programa "TV Folha" (TV Cultura, hoje, 19h30), ponderando
que "talvez tenha sido bom" e termina explicando que o "melhor
era enfrentar".
Antes de voltar a compor, ela diz ter penado durante um
mês com pesadelos diários que a jogavam de volta à rotina ministerial.
"Antes do [ano] 3.500 eu não volto para lá", afirma a ex-ministra sobre
Brasília.
Anna
Maria Buarque de Hollanda, 64, é irmã mais nova de Chico Buarque, filha do
historiador Sérgio Buarque de Hollanda. E mais: cantora, compositora e notória
defensora da propriedade intelectual.
No ministério, "eu era a Geni",
diz, em referência à protagonista da canção "Geni e o Zepelim",
composta pelo irmão famoso. "Todo mundo tacava pedra em mim." Desde o
primeiro mês no governo, quando anunciou que queria rever o projeto de lei que
flexibiliza os direitos autorais, Ana de Hollanda estava em queda. Foram 20
meses entre acusações de favorecer o Ecad, órgão investigado em CPI, e ataques
vindos de intelectuais e até do ex-ministro Juca Ferreira, para quem sua gestão
foi nada menos que "um desastre". Questionada sobre sua demissão após
a cerimônia de posse de Marta Suplicy, que a substituiu, Ana de Hollanda foi
seca. "Isso você pergunta à presidenta", disse.
"As
pessoas muitas vezes priorizam os holofotes, o que vai dar mais efeito, o que
vai aparecer melhor", cutuca. “Com a nova
música, estou respondendo tudo. Para mim, é difícil falar. Fui
convidada para um cargo importante, mas não era meu programa, nunca sonhei com
isso. Eu queria ficar aqui [no Rio]. Estava feliz, tinha acabado de reformar
meu apartamento”. Depois...
“Durante um mês, acordei todos os dias com
pesadelos sobre os problemas que teria [para resolver no ministério], mas não
tinha problema mais. Aí relaxei. E numa tarde veio a letra.” Pôs de lado a carreira de cantora enquanto
esteve no MinC: “Evitava porque tudo o que fizesse ia ser atacado.
Queriam pegar o pessoal. Se cantasse, iam dizer que cantei mal. Se fizesse uma
letra e mostrasse uma música nova, iam dizer que é um horror, que eu tinha que
me aposentar. Não queria jogar fora o meu lado pessoal, então eu preservei. Acharam
que eu comecei a compor de repente. Não foi de repente. E tem a coisa do Chico
[Buarque], que é muito forte. Quando eu comecei a cantar, também tinha essa
coisa de "está cantando porque é irmã do Chico". Eu cantava desde
criança, em casa!..... Depois que entrei no ministério, parou tudo. Não tem
como. Talvez até pelo meu próprio grilo, minha voz acabou. Está voltando aos
poucos. O emocional desliga a voz. Porque o ataque pessoal dói muito. Virei a
Geni, né?.... Eu era a Geni, ficou fácil. Virei a Geni! Todo mundo tacava pedra
em mim. Do tipo, "ficou fácil bater nessa Ana de Hollanda".
“Eu quis fazer aquele samba tradicional que o
pessoal usava para dar qualquer recado, que você faz e responde. Eu estava
preocupada com esse lance da voz, porque eu queria passar o recado bem passado.
Tenho que mostrar que eu não voltei acabada. Agora eu já estou inteira, e tinha
que mostrar essa volta por cima. Fiz o que eu tinha que fazer, não me arrependo
de nada.
Gestora:
Não. Quero trabalhar um
pouco mais solta, ficar um pouco mais "free-lancer", com menos
tensão.
Saudade
de Brasília?: Não!
Deixei muitos amigos lá e, sempre que eles perguntavam quando eu voltaria, eu
lembrava que antes do 3.500 não volto para lá. Tem um jogo [em Brasília] que
muitas vezes é sujo, sem ética nenhuma. As pessoas muitas vezes priorizam os
holofotes, o que vai dar mais efeito, o que vai aparecer melhor. Não há dúvida
disso. Claro que talvez eu pudesse fazer um jogo político mais oportuno, se
quisesse permanecer na política.
Saída? Sempre
tive apoio de muita gente. O que aconteceu foi uma coisa muito chata. Começaram
a fazer um bullying virtual. Qualquer pessoa que saísse na minha defesa, vinha
aquele enxame acabando com a pessoa. Os artistas começaram a ficar inibidos. No
mundo da música, o apoio a mim era de 99%. Gente do rock, do samba, de tudo. O
apoio era maciço, mas as pessoas tinham medo de se expor. A briga é com esses monopólios da
internet que têm muito dinheiro. Por que não pagar os direitos autorais, como
pagam os meios de comunicação, como pagam todos? Tem que pagar! Megagrupos
jogando pesado. Briga que envolve o interesse dos trabalhadores dessa área e
das indústrias, que investem na produção e veem seus produtos surrupiados. O
culpado é o sistema que não está cobrando e repassando o conteúdo. O garoto às
vezes acha legal essa coisa libertária, anarquista. Anarquista é o que ele está
pensando, porque tem grana rolando e os maiores milionários do mundo estão
nessa área hoje em dia.
A responsabilidade que eu tinha quando assumi
[o ministério] era de ser uma gestora, de falar sério. A lei [de direito
autoral sobre obras culturais, de fevereiro de 1998] ainda existe.... A
internet é ótima! Porque a gente tem acesso a tudo mesmo e tem que ter. A gente
[artista] quer também ter como aliada a internet para divulgar o nosso
trabalho.Com o autor recebendo, evidentemente. Negocia-se [o valor] se é x ou
y, isso é tranquilo....
Se jogaram ou não na Geni, na Ministra, ela
abriu a boca e doa a quem doer...
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