O psicanalista Contardo
Calligaris, autor de 11 livros, sendo os dois últimos romances. Entrou para o
gênero ficção: “Uma ficção se constrói a partir de pequenos elementos da sua
vida, sobretudo aqueles que você não conseguiu costurar direito. Você costura
as coisas, de uma maneira ou outra, dá um destino”, resume Caligaris.
O
italiano, repensa o uso de medicamentos como “antídoto para o mal-estar no
mundo contemporâneo”, a obsessão em se evitar a morte – uma idéia higienista
que mostra como “a medicina se tornou a disciplina que nos diz como viver muito
mais que a religião” - e as mudanças de valores propagadas nos últimos séculos:
“qualquer homem do século 18 pensa que os valores são aquelas coisas pelas
quais vale a pena morrer. Então, tem uma mudança: de repente qualquer coisa
vale a pena com a condição que nos permita sobreviver”...
“Viagem ao Brasil”, é
oferecida como “um escrito de amor” ao País que escolheu como lar em 1989: “Que
a paixão por esta terra se confundisse com a paixão por uma mulher é algo que
não me parece comprometer nenhum dos dois amores. Pelo que vou entendendo da
minha paixão brasileira, aliás, esta terra, mais do que qualquer outra, talvez
seja destinada a ser amada como um corpo feminino”...
A cada capítulo, Calligaris
apresenta suas cogitações sobre a criação do brasileiro e suas diferenças ante
a educação e o pensamento europeus. A leitura exige concentração e um
desenvolvimento conjunto do raciocínio para que os inúmeros “significantes”
teóricos citados ganhem sentido prático.
O capítulo “Crianças”, mostra que, no início da década de 90, o escritor já se assustava com a falta de limites impostos pelos pais. “O Brasil me aparece como o paraíso das crianças. Estranha-me o sorriso do garçom de um restaurante luxuoso tragicamente atrapalhado no serviço por uma turma de meninos correndo entre as mesas. E também que nenhum cliente pareça se incomodar com o barulho do qual não dava para suspeitar que estivesse incluído no preço. Brevemente: a criança é rei. Curioso, tanto mais num país cuja reputação no estrangeiro está comprometida com legiões de crianças abandonadas na rua”.
Calligaris apresenta sua
tese do “gozo sem limites” e a “impossibilidade (do brasileiro) de levar a
sério as instâncias simbólicas”, com episódios que vão desde a nossa carteira
de trabalho até a fachada dos motéis.
“O Conto do Amor”, lançado
em 2008 pela Companhia das Letras, é bom. O personagem central
é Carlo Antonini, psicanalista narrador, às voltas com casamentos
fracassados e de personalidade “barroca”. A trama se desenrola após uma
conversa com seu pai, figura reservada e carente de sentido. A resposta, que o
protagonista resolve encarar só doze anos após a morte do pai, demanda uma
série de visitas a mosteiros, ruínas e hotéis da Itália pós-guerra.
Surge Nicoletta,
personagem cúmplice, historiadora, amante e sobrinha, cujo passado ela mesma
desconhece. Do livro: “Porque você é a única mulher para quem contei, e a única
para quem contarei, que meu pai era a reencarnação de um pintor do século
dezesseis, e ainda por cima menor”.
“A Mulher de Vermelho e
Branco”, também da Cia. das Letras (2011, R$ 39) o personagem central
é o mesmo, mas o relato baseia-se em indiscretas fofocas sobre pacientes
caricaturados.... afinal, ele é um Psicanalista.....
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