sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

A realidade nua e crua que vivemos....




Rosana da Silva, 54 anos, advogada, fica sentada num banquinho de plástico em um cruzamento da zona sul de São Paulo com uma placa de papelão com um anúncio: "FAXINA. SETE HORAS. R$ 60."

Foi secretária, trabalhou para pagar a faculdade de Direito e formou-se advogada, mas entrou em uma derrocada que a levou às ruas e à faxina: "Quando conto minha história às pessoas que me contratam, a frase que mais ouço é 'não acredito'".....  "Ou acham que sou doida, e não existe nada pior do que ser considerada doida", acrescenta.

Formada em Direito em 1995 na Unifieo, universidade particular em Osasco, na Grande São Paulo, pagando o curso com seu salário de secretária. Tem registro na ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB) COM A INSCRIÇÃO 139416, número que cita de cor dez anos depois de ter abandonado a carreira.

Advogou em pequeno escritório que montou com amigos da faculdade. Depois, conseguiu entrar em uma banca de colegas renomados da área de Direito bancário, no centro da cidade. Nesse trabalho aconteceu o fracasso profissional. "NESSE ESCRITÓRIO, EU SOFRI ASSÉDIO MORAL POR PARTE DOS DOIS DONOS. ME HUMILHAVAM: IMAGINA VOCÊ SER CHAMADA DE BURRA O TEMPO TODO, DE INCOMPETENTE, DE DROGADA. FORAM TRÊS ANOS", afirma que nunca usou entorpecentes.



Rosana processou os antigos patrões e fez representações contra eles na COMISSÃO DE ÉTICA DA OAB-SP, mas...... nunca conseguiu vencer os processos. Ela carrega a papelada das ações em sua mochila..... A OAB-SP procurada afirma que não comenta casos que correm em sigilo.... 'Todas as portas fechadas'....

Rosana é de Itanhaém, no litoral paulista, foi criada por parentes, viveu praticamente sozinha e só retomou contato com um dos irmãos depois que ele viu uma foto sua na internet, há pouco mais de um ano. Nunca mais conseguiu trabalho como advogada depois que saiu de seu último escritório. Acredita que foi perseguida pela OAB, onde seus patrões tinham influência, diz. A instituição não comenta o caso.

"Em São Paulo, o mundo do Direito é muito pequeno. Você fica conhecida como a pessoa que processou os patrões, suas chances diminuem", conta.... Rosana foi viver nas ruas, onde ficou por sete anos. Começou as faxinas para conseguir comer. "Não sobrou mais nada para mim porque a sociedade fechou todas as portas..... Morro de fome, mas pago o aluguel..... Como conseguir um emprego se você diz que tem 54 anos e não mora em lugar nenhum? As empresas têm uma cartilha de desculpas para não te contratar."

Rosana APENAS MAIS UMA PESSOA EM BUSCA DE TRABALHO. Ela cobra R$ 60 por sete horas de limpeza - um preço baixo no centro de São Paulo. O piso mensal dos trabalhadores domésticos na cidade é de R$ 1.140 por três dias de trabalho semanais, segundo o sindicato da categoria. Precisa fazer ao menos dez faxinas por mês para conseguir pagar o aluguel de um quartinho com cama, fogão e geladeira. Tem meses que não consegue - seu irmão costuma ajudá-la. 

"Eu morro de fome, mas pago o aluguel. Não volto para a rua de jeito nenhum", diz.

"Na rua, o homem te enxerga como propriedade", afirma. "Ele diz: 'como assim você está nessa situação e não quer nada comigo?' Cara, porque ninguém entende quando uma mulher decide viver sozinha?"

O sonho de Rosana é voltar a trabalhar como advogada. Mas ela está "suspensa" da OAB-SP porque deve dez anos de anuidade - cada ano custa R$ 997,30, dinheiro que a advogada não tem..... "É complicado: fico pensando em leis enquanto limpo privadas."


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