segunda-feira, 31 de julho de 2017

Rita Comparato lança ‘Irrita’, sua própria grife.



A estilista da ex-Neon ao lado de Dudu Bertholini, volta com estampas tropicais sofisticadas na Choix, em São Paulo. De peito aberto pra quem quiser ouvir, conta como foi reaprender a viver sem drogas após ser internada em clínica de reabilitação pela família.

Lá se foi a experiência de julho de 2013 quando sua família reunida decidiu pela internação em uma clínica.

Desde cedo fui uma criança destemida e ousada usando aos 8 anos uma canga amarrada em um ombro só. Experimentei ácido aos 16 e cocaína aos 21 quando lancei a Neon. Eu e o Dudu Bertholini nos conhecemos na faculdade de moda Santa Marcelina. O Dudu era stylist, precisava de um maiô para um editorial e me pediu para fazer o molde.

Estreamos no SPFW, assumimos a direção criativa da Cori, fomos demitidos e voltamos a nos dedicar à Neon em tempo integral. Era uma bagunça, tínhamos uma dívida imensa. Mergulhei no negócio e movi mundos e fundos. Quanto mais trabalho tinha, mais estressada ou triste estava, mais cocaína consumia. Fazia compra de mês de pó. No auge do vício, se dormi um mês durante um ano, foi muito. Não tinha noção, falava além do que devia. Era uma confusão, não dava para chegar perto de mim porque eu dava choque.

Viajei para a Índia porque não conseguia mais criar. Virava a noite fazendo bazar para pagar os funcionários e as dívidas da Neon uma montanha-russa: um dia ia falir, no outro não. Estava lutando em uma guerra e não sabia mais qual era a causa, não conseguia mais nem vestir minha própria marca. O último desfile da Neon, foi em março de 2013 inspirado na Índia que visitei e embalado por Paint it Black, dos Rolling Stones, porque olhava ao redor e estava tudo pintado de preto - havia vários pedidos de socorro ali.

A morte de Clô Orozco, uma semana depois daquele desfile, foi a gota d’água. Ela era uma referência para mim: tinha aquela fábrica maravilhosa, com refeitório, pagava curso para os funcionários, viajava com suas estilistas para fazer pesquisa. Ela viveu pela Huis Clos, tinha paixão pela moda. Me espelhava nela.

Várias vezes fiz empréstimos pessoais pela Neon, pagava todo mundo e voltava para casa com R$ 70 no bolso. Será que eu teria o mesmo destino da Clô? Logo depois disso, Dudu e eu decidimos encerrar as atividades da marca. Em junho de 2013, dei uma festa que durou dois dias para comemorar sei lá o quê... Tinha ideias delirantes sobre meu futuro: “Vou virar carnavalesca”. Como se fosse fácil. Dois dias depois de fecharmos a Neon, recebi a ligação do meu pai que levaria à minha internação.

Foram 28 dias na clínica. Vi minha vida tomada de mim: não podia ver meu cachorro, meus amigos.... Não tinha contato com o mundo lá fora, ficava só ouvindo e entendendo sobre minha doença. Recebia visita uma vez por semana do meu pai e da minha mãe..... Mais difícil foi deixar a clínica. Estava numa bolha e, de repente, saí para o mundo. Tudo o que conhecia não podia mais fazer: não tinha mais a Neon, não podia mais usar drogas, beber, ver meus amigos [os Narcóticos Anônimos recomendam que dependentes químicos evitem amigos usuários]. Achava que minha vida havia acabado, que já havia vivido tudo o que poderia.

Fui encontrando força em qualquer pequeno sinal: em um sol que saía, em alguém que falava uma palavra de fé e esperança; passei a rezar muito. Tive que reaprender a viver. Depois da internação, voltei a morar na casa dos meus pais. Foi muito simbólico para mim, minha vida inteira estava encaixotada na garagem deles. Senti que era uma chance de me reinventar. Não era só deixar de usar drogas: era mudar o jeito de pensar.

No fim de 2013, achei no meu bolso um saquinho de cocaína - várias vezes já encontrei, herança daquela época. Não pensei duas vezes e cheirei uma carreira. Achei uma delícia: “Não é à toa que eu gostava tanto”, pensei. Mas, depois de cinco minutos, minha mão começou a tremer, não conseguia dirigir, meus pensamentos estavam confusos. Foi um filme que voltou. Só depois dessa recaída que entrei, de fato, em recuperação.

Depois da internação, deixei de ver a maioria dos meus amigos, mas isso não quer dizer que não goste deles. Vários já me procuraram pedindo ajuda. Não posso beber nem tomar nenhuma droga que altere o humor.

No começo desse processo, me sentia uma estrangeira dentro de mim. Não me reconhecia. Hoje, faço ioga, estou indo a todos os médicos que não fui na vida. Agora penso antes de falar. É maravilhoso esse processo. É uma outra Rita, que também sou eu. A cada dia enxergo mais uma coisinha.”

Na torcida por ela e nova coleção e aos que conseguem sair das trevas... Está na mídia mas a primeira entrevista foi feita pela Bruna Bittencourt.

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