terça-feira, 20 de junho de 2017

Jornalista Baby Garroux: Com a imensa crise no país a cultura fica na berlinda...


Comovente entrevista da primeira-bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro Márcia Jaqueline para a BBC. Há exatos dez anos, tornou-se, em uma das principais instituições culturais do país, ela conseguiu uma das posições de maior destaque do corpo de baile.

Depois que eu entrei, o meu sonho era terminar a minha carreira aqui”, diz Márcia, que começou a dançar no teatro aos 14 anos. Hoje, aos 35, ela se vê forçada a mudar de planos após convite para fazer parte do Salzburg Ballet, na Áustria. Sem perspectiva, ela deixa o país.



O Theatro Municipal administrado pelo Estado do Rio, passa por grave crise econômica. Os 530 funcionários ativos, incluindo 200 artistas, não têm previsão de quando vão receber a totalidade do salário de abril, que começou a ser pago em parcelas nesta semana, nem o de maio ou o 13º do ano passado. A crise financeira do governo estadual afeta servidores de setores como saúde, segurança e defesa civil. Também a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), técnicos e professores estão com os salários atrasados. Pezão afirma que os pagamentos devem estar em dia em um prazo de 45 dias.

O corpo de baile estava sem dançar desde o início do ano e os bailarinos se uniram à Orquestra Sinfônica e ao coro do teatro para quatro apresentações de Carmina Burana, famosa cantata composta pelo alemão Carl Orff na década de 30 do século passado: “Trazer esta obra, neste momento, é um grito de socorro”, explica Márcia. Ela conta: “Artistas passaram a vender quentinhas e dirigir pelo aplicativo Uber para sobreviver. Há casais de artistas em que ambos estão sem receber, e muitos têm de escolher as contas que conseguem pagar no mês. A gente está dançando para arrecadar feijão e arroz, porque famílias não têm o que comer. Já foram doadas mais de 8 toneladas de alimentos, distribuídas como cestas básicas para os funcionários do teatro.”




Márcia explica: “Os bailarinos costumam ter carreira curta. No auge da forma, não se pode ficar estagnada.”

A bailarina tirou uma licença não remunerada de dois anos, renovável por mais dois, para poder seguir dançando fora do país: “Eu batalhei tanto para chegar até aqui e não podia, neste momento, desanimar. Mas eu quero voltar e fechar o meu círculo, porque aqui eu comecei e quero terminar aqui.”



O espetáculo Carmina Burana foi apresentado nos dias 15, 17, 18 e ainda hoje 20 de junho no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.



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