Comovente entrevista da primeira-bailarina do Theatro Municipal
do Rio de Janeiro Márcia Jaqueline para a BBC. Há exatos dez anos, tornou-se, em
uma das principais instituições culturais do país, ela conseguiu uma das
posições de maior destaque do corpo de baile.
“Depois que eu entrei, o meu
sonho era terminar a minha carreira aqui”, diz Márcia, que começou a dançar no
teatro aos 14 anos. Hoje, aos 35, ela se vê forçada a mudar de planos após convite
para fazer parte do Salzburg Ballet, na Áustria. Sem perspectiva, ela deixa o
país.
O
Theatro Municipal administrado pelo Estado do Rio, passa por grave crise
econômica. Os 530 funcionários ativos, incluindo 200 artistas, não têm previsão
de quando vão receber a totalidade do salário de abril, que começou a ser pago
em parcelas nesta semana, nem o de maio ou o 13º do ano passado. A crise
financeira do governo estadual afeta servidores de setores como saúde,
segurança e defesa civil. Também a Uerj (Universidade do Estado do Rio de
Janeiro), técnicos e professores estão com os salários atrasados. Pezão afirma
que os pagamentos devem estar em dia em um prazo de 45 dias.
O
corpo de baile estava sem dançar desde o início do ano e os bailarinos se uniram
à Orquestra Sinfônica e ao coro do teatro para quatro apresentações de Carmina
Burana, famosa cantata composta pelo alemão Carl Orff na década de 30 do século
passado: “Trazer esta obra, neste momento, é um grito de socorro”, explica
Márcia. Ela conta: “Artistas passaram a vender quentinhas e dirigir pelo
aplicativo Uber para sobreviver. Há casais de artistas em que ambos estão sem
receber, e muitos têm de escolher as contas que conseguem pagar no mês. A gente
está dançando para arrecadar feijão e arroz, porque famílias não têm o que comer.
Já foram doadas mais de 8 toneladas de alimentos, distribuídas como cestas
básicas para os funcionários do teatro.”
Márcia
explica: “Os bailarinos costumam ter carreira curta. No auge da forma, não se pode
ficar estagnada.”
A
bailarina tirou uma licença não remunerada de dois anos, renovável por mais
dois, para poder seguir dançando fora do país: “Eu batalhei tanto para chegar
até aqui e não podia, neste momento, desanimar. Mas eu quero voltar e fechar o
meu círculo, porque aqui eu comecei e quero terminar aqui.”
O
espetáculo Carmina Burana foi apresentado nos dias 15, 17, 18 e ainda
hoje 20 de junho no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
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