E
me lembro muito bem o que repercutiu a novela ‘Salve Jorge’ com o tráfico internacional
infantil, e mais uma vez abriu as portas para Charlotte Cohen, 29, que veio ao
Brasil para descobrir a identidade de sua mãe.
Em
1987, ela foi vendida, quando tinha menos de um ano, para um casal francês, que
vivia em Paris. Claro com papéis forjados, conseguiram adotá-la oficialmente na
França. Foi super maltratada pela família adotiva, mas conseguiu suspender a
guarda aos 21 anos. Sua mãe, Jacira dos Santos, trabalhava como empregada
doméstica da Vera, traficante de crianças. Sua mãe não tinha casa e vivia
na casa dos patrões como acontece com muitas sobreviventes. Dormia no quartinho
de empregada numa mansão em Moema, na
zona sul de São Paulo.
Vera
não permitiu que o bebê ficasse na casa e se alguém da família de Taboão da
Serra quisesse ficar com ela... Mas a ‘tal’ Vera e o marido Marco tinham todo
um esquema e usaram uma empregada doméstica, a Glória, para ir ao cartório e
dizer que tinha dado a luz a um casal de gêmeos. Tudo bem organizado. E assim
chegou na França com seu irmão, em Paris quando tinha uns três meses. Tudo falsificado,
certidões de nascimento, passaportes. Num cartório em Paris foi adotada, inicio
de seu calvário.
Seu
‘pai' bebia muito, e sua mãe adotiva tinha crise de raiva, ambiente de violência,
conflito, e alcoolismo. Mas a Charlotte aos 25 anos se formou em Letras e
Cinema na Universidade de Sorbbone, falava três línguas fluentemente:
francês, inglês e espanhol, e aprendeu um pouco de português....
Entrou
nas redes sociais, pesquisava tudo até encontrar sua família ou o que restou
dela. Sua mãe morreu assassinada aos 25 anos. Na sexta-feira de 24 de março, recebeu
o resultado do exame de DNA. "Hoje eu nasci pela segunda vez",
declarou aos amigos....
“Quando
cheguei ao Brasil, estava no ar a novela "Salve Jorge". E apareciam
uns jovens dando depoimentos que tinham sido vítimas de tráfico internacional
de pessoas. Então, eu procurei um deles, que me ajudou com o contato de quem investigava
esses casos. Eles me ajudaram a investigar, e aí percebemos que era tudo um
esquema de bandidos. Eu denunciei, então, na Polícia Federal de São
Paulo, que abriu um inquérito. Chamaram a traficante e ela não quis falar. As
empregadas do suposto orfanato também foram depor. Só que aí a polícia disse
que o crime iria prescrever, porque fazia muito tempo e naquela época não tinha
uma lei que pudesse incriminá-los.....
Eu
consegui investigar num arquivo tombado do patrimônio de São Paulo o prontuário
do dia que eu nasci, 30 de abril de 1987. Eu vi um bebê com tipo sanguíneo B
negativo, e constava como endereço da minha mãe a casa da Vera. Achei...... Também
cheguei à minha irmã pelo Facebook e mandei uma mensagem. E ela me respondeu:
"A minha mãe, realmente, teve uma filha em 1987 que tiraram dela. Ela
trabalhava na casa da dona Vera. Você se chamava Isabella"......
Eu
resgatei a minha dignidade. Antes disso, eu era alguém que tinha sido vendida,
que não tinha passado que não tinha família, que não tinha nome. De repente, eu
tenho uma família, eu tenho um nome, eu tenho uma história.... ...
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