Matéria
de Nizan Guanaes para a RG
O
que os americanos e ingleses mais sofisticados têm em comum? Cultura.
Livros
e dinheiro são uma mistura perfeita para elegância, savoir faire e bom gosto. Infelizmente
o Brasil, que copia tanta coisa destes dois grandes países, não aprendeu a
copiar essa ainda. A pobreza do rapaz rico dos camarotes, estampada na capa da
Vejinha, mostra uma classe alta inculta que beira as raias do constrangimento
num país cheio de desigualdades.
Ninguém
que tenha aberto um livro será capaz de, num mundo desigual como o nosso, abrir
champanhes magnum a rufar de tambores e piscar de luzes. Dinheiro sem livro faz
garotos ruidosos e meninas caladas. Gente mal vestida com as melhores grifes. E
que não sabe se comportar no mundo.
Gente
caipira.
A
começar, não sabem falar inglês, inaceitável num mundo global. O mais
lamentável ainda é que falam mal português também. A vida social em Nova York e
Londres se passa dentro de universidades e museus, misturando caridade,
diversão e cultura. Quando você conversa com pessoas como Tina Brown e Arianna
Huffington, elas não são apenas locomotivas sociais, elas são enciclopédias
vivas. Sem cultura e sem refinamento intelectual, seremos sempre sinhozinhos e
sinhazinhas capiras mesmo que a gente compre todas as roupas, relógios,
fivelas, todos os aviões e carros do mundo.
Este
país, apesar de todos os desafios que tem, já é um gigante global. E além de
uma nova classe média, ele precisa de uma nova classe alta. Harvard, Yale,
Stanford, Oxford, Cambridge… são centros sociais desse mundo moderno. É lá
nessas escolas que se formam o establishment social que vai influir no mundo.
No Brasil, nós ainda achamos que esse establishment se forma em Nammos, em
Mikonos, ou no Club 55, em St.-Tropez.
Nasci
no Pelourinho. Fui a uma universidade bem mais ou menos. Mas em vez de dar uma
Ferrari pro meu filho, coloquei ele na melhor escola que São Paulo tem: a
Graded. E ele, por conta própria, escolheu fazer o colegial em uma das melhores
prep schools dos Estados Unidos. A escola Exeter foi fundada em 1781. Lá
estudou Mark Zuckerberg. A biblioteca tem 250 mil livros. E Antonio está
estudando latim, fazendo remo e sofrendo pra burro pra entrar na disciplina da
escola. Mas isso sim é uma herança.
Meu
filho leu mais do que eu, sabe mais do que eu. Está se tornando um homem melhor
por dentro e por fora. Eu acredito que desse jeito construo não só um futuro
pra ele, mas construo um futuro melhor pro país. Eu me dedico pessoalmente à
educação de minhas crianças. Cada uma tem seu caminho e seu estilo. Passei, por
exemplo, uma semana mostrando a Antonio o que era Istambul. E três horas
jantando com Zeca, eu e ele, num restaurante três estrelas Michelin em Osaka.
Os
brasileiros melhores que nós formamos são a maior contribuição que podemos dar
ao futuro desse país. Claro que o caminho não é fácil. Antonio, por exemplo,
acostumado à boa vida de um menino em sua idade em São Paulo, luta para se
enquadrar à vida espartana e focada em Exeter. Ao acompanhar meu filho e sua
luta na tradicional escola, vejo de posição privilegiada como os Estados Unidos
e a Inglaterra fabricam grandes mentes a ferro e fogo. Estudantes de história
que viram fotógrafos ou vão fazer moda, ou simplesmente serão grandes
anfitriões.
Mas
em tudo que forem fazer terão a marca indelével da boa educação. E é isso,
educação, que nós, a elite, desejamos e cobramos tanto para os pobres que eu
cobro para os ricos. Porque é elite estudada, culta e sensível um dos maiores
luxos que este país mais precisa.
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