segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A ex-ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello dá sua visão de Brasil atual.





Em entrevista para a Forbes de Nova York, na pizzaria napolitana Numero 28 (176 2nd Avenue). O Brasil teve seu primeiro encontro com a ministra do governo Fernando Collor, cargo que ocupou em março de 1990 a maio de 1991. Há 17 anos, ela é radicada em Nova York. Desde 2006, é sócia da Aquila Associates (pequeno banco butique de investimentos), que conduz ao lado de dois americanos do mercado financeiro.
Zélia falou do confisco da poupança: “Não me arrependo de nada. Fiz coisas boas para o país que vivia um período de hiperinflação. As coisas não tão boas que fiz foram para mim e não para o Brasil. O custo pessoal foi bastante alto e eu já paguei o que tinha que pagar”, diz Zélia.. 
Do passado: “Isso não faz bem para a saúde. Eu sempre penso no futuro, não no passado. Passado é passado”, diz ela que aderiu à meditação transcendental, que pratica duas vezes ao dia, por 20 minutos cada.
Aos 60 anos, Zélia vive agora uma fase de “empty-nest” - ninho vazio. Ela habita amplo apartamento na Big Apple sem os seus dois filhos, fruto do casamento de seis anos com o humorista Chico Anysio, saíram de casa. Rodrigo foi estudar na University of Pennsylvania e Victoria, no Dartmouth College, na cidade de Hanover, em New Hampshire.
Agora voltei a aproveitar mais Nova York. Não é muito fácil ser mãe sozinha com dois filhos. Eu não saía durante a semana, até porque quando eles chegavam da escola os ajudava com a lição de casa, fazia o jantar, limpava a cozinha, os colocava para dormir, e às 21h já estava exausta. Aos fins de semana, ficava por conta deles. Agora que foram para o college, estou tranquila para sair, fazer cursos, jantar com uma amiga e ir ao teatro”, conta.
Zélia quer saber sobre o enriquecimento do brasileiro: “O que mais vejo em Nova York, é brasileiro fazendo compras. E, aquisição de artigos de luxo, como bolsas, sapatos e roupas de grifes como Chanel, Prada e Louboutin. Tem brasileiro levando três bolsas de US$ 15 mil de uma só vez. Existe uma geração de riqueza que estou tentando entender de onde vem. Gostaria de compreender qual foi o processo de geração dessa riqueza que não vem da chamada classe C, mas da A e B.”
O brasileiro sempre foi empreendedor. Mas ele seria muito mais empreendedor se o governo estivesse mais ausente, se o governo tivesse um papel menor do que o que tem hoje. O governo empreendedor acaba beneficiando alguns setores e outros não”, afirma.
Zélia: “há uma falta de crédito, um desatendimento às pequenas e médias que não são tratadas como as grandes no Brasil.” Os grandes têm onde buscar dinheiro. “A falta de crédito no Brasil é para os pequenos e médios. Os grandes têm o mercado internacional e nacional e muito mais recursos em potencial. Mesmo nos bancos de investimentos no Brasil, oferecer um negócio de US$ 800 milhões é muito mais fácil que um de US$ 5 milhões. O engajamento é maior em negócios de grande porte. Por conta dos fees (taxas), o banco não vai querer um negócio pequeno que dará o mesmo – ou mais – trabalho que um negócio grande.”
O Brasil hoje? “A questão agora é a tendência e, sinceramente, ela não é boa. Temos que voltar à linha que estava sendo seguida até cinco, seis anos atrás”, alerta..... “Com o fim da inflação, o país entrou em um determinado estágio de crescimento e desenvolvimento, com um governo mais enxuto, responsabilidade fiscal e uma menor interferência.
Zélia o petróleo e a Petrobras. “O que se conseguiu com isso até hoje? Atrasar de quatro a cinco anos de pesquisas, exploração, entrada de recursos. O caso do petróleo é triste. A gente não devia estar nesta posição. Temos que voltar, go back to the basics”, aconselha. “Eu falei na privatização da Petrobras ao jornal O Estado de S.Paulo quando era ministra. Após essa entrevista, o Roberto Campos (economista que ajudou na criação e presidiu o BNDES, dentre outros cargos como o embaixador do Brasil em Washington) telefonou para me parabenizar. O tema criou um mal-estar terrível dentro e fora do governo. Minha opinião é a mesma. Eu acompanho a Petrobras pelas ações. Veja o que aconteceu com elas. Não preciso vir eu aqui falar.”
Zélia, por meio da Aquila Associantes, Zélia ajuda os brasileiros e americanos a encontrar bons projetos no Brasil e também nos Estados Unidos e, em paralelo, auxilia empresários brasileiros em busca de sócios ou parceiros estratégicos no exterior. “Os nossos investidores não estão, neste momento, com muito apetite para o Brasil.”: infraestrutura que não anda, intervencionismo, baixo crescimento da economia e a OGX, que teve um efeito pernicioso sobre todo o mercado brasileiro.
Há 15 anos, tínhamos que vender o Brasil. Há cinco, todo mundo queria estar no Brasil. Hoje, voltamos ao que éramos antes. Temos que convencer a investir no país. Tem horas que parece mais fácil oferecer um projeto aqui mesmo nos EUA”, admite. No momento, a maior demanda dos investidores é pela área de energia limpa nos Estados Unidos, com foco em projetos de energia solar. “Área, aliás, que nunca prosperou no Brasil com todo aquele sol.”




Nenhum comentário:

Postar um comentário