Meryl
Streep e Julia Roberts foram indicadas ao SAG – melhor atriz e melhor
coadjuvante – e há outra indicação para o prêmio de melhor elenco.
Julia
também foi indicada ao Globo de Ouro como melhor coadjuvante de drama. É
poderosa como a filha durona de Meryl Streep. Com as irmãs, ela é chamada às
pressas para a casa em Oklahoma quando o pai desaparece. Afloram conflitos e
ressentimentos. Face ao que parece a fragilidade do grupo familiar, Julia
assume as rédeas da situação. Dá ordens, grita com todo mundo. Não se iluda, a
matriarca do clã Weston – Meryl – é mais dura que ela.
Pauline
Kael, rande crítica norte-americana e mais influente diante de certos filmes,
ela não conseguia definir se eram ‘cinema’ ou ‘teatro filmado’, o que quer que
fossem, mas concluía – são grandes. Álbum de Família baseia-se na
peça de Tracy Letts que venceu o Pulitzer. Algum crítico dirá, provavelmente,
que é teatro filmado, que o diretor John Wells exagera nas tintas, mas o que
não falta à adaptação é intensidade. E o elenco é poderoso. Não foi por acaso
que o filme ganhou várias indicações para o SAG Awards, o prêmio do Sindicato
dos Atores, e o Globo de Ouro.
Na
abertura, o ator e dramaturgo Sam Shepard, sem olhar para a câmera, conta que a
mulher e ele fizeram um pacto – ele bebe, ela se enche de pílulas. O patriarca
Weston some – logo o espectador fica sabendo o que ocorreu com ele – e a mãe,
traumatizada e sob efeito das drogas, transforma o jantar com o que restou da família
num violento acerto de contas verbal com as filhas e genros. Para agravar,
Meryl, que se chama Violet – Vi – está sendo devastada por um câncer na boca.
Ela acusa Julia de haver ignorado sua doença, mas de ter vindo correndo ao
saber do sumiço do pai. Pais e filhos nunca conseguem esconder suas
preferências, ela brada.
Tracy
Letts é um ator, dramaturgo e roteirista que já inscreveu seu nome no teatro e
no cinema dos EUA. Autor de peças como Bug e Killer Joe, ele
também assinou o roteiro das adaptações (impressionantes) feitas por William
Friedkin. Ele também tem o crédito pelo roteiro de Álbum de Família. No
original, é August: Osage County. E, como ator, seguiu trabalhando em
séries como Prison Break, que terminou em 2009, (o personagem Peter Tucci)
e Homeland (o senador Andrew Lockhart). A parceria entre Letts e
Friedkin tornou-se explosiva porque são duas personalidades muito fortes. Mas
John Wells, o diretor de Álbum de Família também merece crédito.
Ganhou vários Emmys por séries como ER. A trilha de Gustavo Santaolalla
contribui para o clima.
Wells
sabe que a força de seu filme está na palavra – no verbo de Tracy Letts. Sua
mise-en-scène, à maneira de um Joseph L. Mankiewicz, constrói-se por meio do
dinamismo dos diálogos. Mas ele possui ideias, e boas. A casa inicialmente
fechada abre-se, mas não é para que entre a luz libertadora. A transparência é
para que todo mundo exponha suas carências. E o calor é insuportável, virando
ele próprio um personagem. Lá pelas tantas, você não sabe se as pessoas estão
derretendo de calor ou por causa da combustão interna. Algumas cenas ficam com
o espectador – Violet falando da própria mãe, e Julia pela primeira vez
entendendo como e por que esta mulher é assim; ou a tia, ao confessar seu
‘erro’, como diz, olhando o marido que sai da casa, após a agressão verbal.
Impossível não pensar numa frase de Jean Renoir no cultuado A Regra do
Jogo – e o mais terrível é que todas essas pessoas têm suas razões.
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