Indrig Betancourt. |
Ingrid Betancourt quer que o estado colombiano lhe pague uma indenização de 12,5 mil milhões de pesos (mais de cinco milhões de euros pelo seu sequestro), a ex-refém das FARC. A guerrilha colombiana, considera que a sua segurança foi negligenciada pelos militares que a acompanhavam no dia em que foi sequestrada. O pedido, apresentado no tribunal, levanta críticas de todos os setores da sociedade. O vice-presidente, Francisco Santos diz: “ela foi a um sítio onde a aconselharam a não ir e agora quer que o Estado pague. Isto ganha o prémio da hipocrisia, oportunismo e ingratidão”.
D. Yolanda Pulecio e a filha Ingrid. |
Ingrid Betancourt passou seis anos na selva colombiana, nas mãos da guerrilha. Foi sequestrada em Fevereiro de 2002, quando se encontrava em campanha eleitoral para as eleições presidenciais e libertada em Julho de 2008, numa operação militar. O estado colombiano estima que mobilizou todos os esforços para a libertar e não lhe deve nada. Betancourt apresentou o pedido de indenização dois dias antes de participar numa cerimónia oficial de homenagem aos soldados que a libertaram a si e a outros quinze dos mais importantes reféns das FARC.
Ingrid Betancourt nasceu no dia de Natal, em dezembro de 1961. Como todos os pais, sua mãe e seu pai desejaram à filha recém-nascida todo o bem do mundo. “Que encontre na felicidade uma constante companheira, filha amada. Saiba que se te machucares, Nós também iremos nos ferir...” E Ingrid teve nos seus pais um vivo exemplo de generosidade, integridade, e amoroso serviço ao próximo necessitado.
A mãe de Ingrid, dona Yolanda Pulecio, sempre esteve envolvida em causas sociais. No ano de 1958, criou o Albergue Infantil de Bogotá, instituição destinada a acolher menores carentes em situação de risco social. Ao longo de mais de cinco décadas de existência, aproximadamente 12.000 crianças encontraram abrigo na instituição. O pai de Ingrid, Gabriel Betancourt, dedicou a sua vida a outra causa igualmente nobre, – a promoção da educação e da cultura. A residência da família era um local de encontro
Gabriel Betancourt e a filha Ingrid. |
para renomados pensadores e artistas latino-americanos, como Pablo Neruda, Fernando Botero e Gabriel García Márquez.
E Ingrid cresceu ouvindo os conselhos de seu pai: “Foi graças à Colômbia que você conheceu a Europa, frequentou as melhores escolas e viveu um esplendor cultural que colombiano algum dificilmente conhecerá... Todas essas possibilidades de que você se beneficia fazem com que hoje você tenha uma dívida com o país. Não se esqueça disso.”
Ingrid se forma em Ciências Sociais, pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris. Em 1983, casa-se com o diplomata francês Fabrice Delloye, com quem tem dois filhos, Mélanie, nascida em 1985, e Lorenzo, nascido em 1988. Aos 29 anos de idade, depois de conhecer as vantagens de uma vida confortável e privilegiada na capital francesa, Ingrid Betancourt lança-se de corpo e alma, disposta a contribuir na plena medida de suas forças para o resgate de seu país de origem, a Colômbia. País mergulhado num cenário explosivo, caracterizado pelo poder dos narcotraficantes, a corrupção de autoridades, e o terror dos paramilitares de extrema direita. Em 1994, aos 33 anos, é eleita Deputada, com a maior votação registrada no país. Torna-se uma árdua promotora da justiça social e da educação.
Foto tirada no dia do sequestro. |
Defronta interesses escusos, recebe seguidas ameaças de morte. Em 2002, aos 40 anos de idade, Ingrid Betancourt resolve se candidatar à presidência da Colômbia. Foto tirada minutos antes de seu sequestro, durante o deslocamento para o vilarejo de San Vicente: emboscada, sequestro, e violência. Ingrid é arrancada do veículo, e levada prisioneira para o desconhecido. O cruel cativeiro nas densas florestas colombianas. Um cativeiro localizado em meio à densa vegetação, sob várias camadas de sombras formadas pela copa das árvores, tornando praticamente impossível a sua localização por aeronaves que porventura sobrevoassem a região.
A família lança um apelo humanitário, para que Ingrid seja liberta, de modo a poder participar do enterro do pai. O pedido é ignorado. Num vídeo gravado como prova de vida, Ingrid afirma: “Estou bem, estou viva. Só peço a Deus que me ajude a colocar um pé na frente do outro para poder andar dia após dia.”
Seu rosário de fé. |
Numa entrevista concedida após a sua libertação, Ingrid recorda: “Nós (os sequestrados) levávamos a dor do mundo em todas as suas dimensões. Em todas as suas expressões”. “A floresta é um lugar hostil. Tudo dói nela. A pele não é um espaço de proteção, mas de dor. Comer dói, ir ao banheiro dói, tomar banho dói, viver dói, respirar dói. Não ver o céu dói. Não ver as pessoas que a gente ama dói”. “Os incessantes sons macabros dos animais, e, à noite, o som dos gemidos dos companheiros que choravam dormindo e gritavam seus pesadelos”. “Um deserto de afeição, de solidariedade, de afeto.” “Como reféns, passávamos por uma humilhação constante. Éramos vítimas de total arbitrariedade. Você passa a conhecer o pior que pode existir numa alma humana.” “O que me permitiu passar por tamanho sofrimento foi o sentimento de que Deus estava ao nosso lado. Não fosse por este sentimento, dificilmente conseguiria suportar as penas impostas no cativeiro.”
Por cinco vezes, Ingrid tenta fugir do cruel cativeiro. Em uma das ocasiões, passa três dias perdida na selva antes de ser recapturada. Durante os dias que passou perdida na selva, era motivo de alívio e tranquilidade sentir-se livre, a salvo dos olhares vigilantes dos guardas, das armas e das correntes. “Durante os anos de cativeiro, descobri que a liberdade é tão vital quanto o oxigênio. Ela é a principal chave para a dignidade humana.” Após cada captura, o castigo redobrado. A fragilidade de um corpo, diante das garras do agressor. As correntes cada vez mais pesadas, as privações e humilhações cada vez mais severas. Não raro, os carcereiros executam os fugitivos que são recapturados, de modo a servir de lição, e desencorajar os demais reféns. Ingrid Betancourt, considerada uma moeda de troca de alto valor, fez com que sua vida seja poupada. Numa ocasião, ela é acorrentada pelo pescoço a uma árvore. Por três dias é forçada a permanecer em pé. Outra punição para os fugitivos capturados é atormentá-los durante o sono com tarântulas e cobras. Certa vez, determinaram que Ingrid deveria reparar e costurar os uniformes gastos e rasgados. Foi nessa ocasião que ela confeccionou, com linhas, botões e alguns gravetos, o rosário que viria a acompanhá-la durante as duras penas do cativeiro.
Na nossa caminhada pela vida terrena, há momentos em que somos obrigados a peregrinar por terras candentes e áridas. “Quanto mais intenso o inverno, mais bela a primavera floresce ...” ... 02 de julho, 2008: o milagre do resgate. Nos dias de cativeiro, a constante lembrança dos filhos – Mélanie e Lorenzo, Mélanie contava, então, com dezesseis anos de idade, e Lorenzo, com apenas treze.
Ingrid e os filhos Mèlanie e Lorenzo. |
Os dias mais felizes de minha vida foram as datas em que meus filhos tão amados nasceram.
Depois de se reencontrar com a mãe e o marido, Juan Carlos Lecompte, Ingrid tomou seu primeiro café da manhã com laranjas. "No cativeiro, não havia frutas, não havia verduras. Há muitos anos não via luz elétrica. Sabão e pasta de dentes eram luxo. Eu me sinto como alguém que voltou de uma viagem à pré-história", contou ela. Por volta das oito horas da quinta-feira 3, ela foi ao encontro dos filhos Melaine, 22 anos, e Lorenzo, 19, que vieram de Paris, onde moram. "O paraíso, o nirvana deve ser algo muito parecido com o que estou sentido agora. Estes filhos são a minha luz, minha lua, minhas estrelas. Por eles, continuei com vontade de sair da selva, para voltar a vê-los", disse entre lágrimas.
No dia seguinte, apenas 36 horas depois de ter sido libertada, Ingrid embarcou para a França com os filhos, a mãe e o ex-marido Fabrice Delloye, a fim de se encontrar com o presidente Nicolas Sarkozy e agradecer aos esforços do governo francês pela sua libertação. Desde o ano passado, os europeus, mais principalmente os franceses, tinham adotado a causa da libertação da ex-senadora franco- colombiana como bandeira de luta. Na sexta-feira 4, uma rádio suíça divulgou a informação de que as Farc teriam recebido US$ 20 milhões do governo francês, dinheiro que teria sido usado na operação do Exército colombiano para subornar guerrilheiros. O governo francês negou a informação.
"Eu me sinto como alguém que voltou de uma viagem à pré-história. No cativeiro, sabão e pasta de dentes eram luxo" - Ingrid Betancourt.
Sobre a carreira política interrompida ela responde que a sua experiência político-partidária a fez perder as esperanças de que as mudanças necessárias
Poucas semanas após a sua libertação, Ingrid inicia uma série de visitas a presidentes e autoridades, com o intuito de agradecer o apoio que resultou na sua libertação e, principalmente, de mobilizar as lideranças para a urgente necessidade de se buscar saídas para o impasse dos tantos que aindase encontram sequestrados e mantidos cativos nas selvas colombianas. A utopia de um outro mundo possível.
“Ontem chorava lágrimas de tristeza, hoje, lágrimas de alegria...” “É preciso acreditar num mundo melhor, que o bem sempre vence o mal, e que nos próximos dias haveremos de testemunhar o início do tempo do espírito, tão esperado por nós.” “Os valores da nossa civilização devem mudar, com a sede de poder e a ganância dando lugar ao serviço e à doação.” “A verdadeira mudança deve começar em cada um de nós. É a partir do somatório das mudanças individuais que poderemos construir um mundo melhor.” “Nós somos os construtores de um tempo novo, aqueles que inauguram um tempo novo do espírito, um tempo oportuno para que os sonhos se tornem realidade.”
Em alguns momentos, lembra os reféns que ainda permanecem cativos na selva, à espera de resgate: “Sou muito feliz... mas meu coração ainda está preso nas árvores da floresta...” “Minha terapia é o amor de minha família, com eles eu volto a ser feliz”,... Ingrid personifica todos aqueles no mundo que estão privados devido à “defesa dos direitos humanos e luta contra a violência, a corrupção e o narcotráfico”.
Seis anos, Quatro meses, Nove dias. O reencontro, o abraço e o riso, a comemoração. Um toque, uma palavra, um olhar. O tão esperado beijo, após a mais longa e penosa espera. “Esses filhos são minha luz, minha lua, minhas estrelas.” “Por eles encontrei coragem para enfrentar a selva, para voltar a vê-los.”
possam advir da arena política. Abandona a política partidária, mas não a Política. A Política com “p” maiúsculo, que move, que mobiliza, que impulsiona rumo ao Amor, à Justiça, e à Solidariedade. A Política do Amor. A Política da Compaixão. A Política da Fraternidade.
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