terça-feira, 16 de maio de 2017

Jornalista Baby Garroux: Cláudia Alencar abre a alma, conta o que sofreu com abusos em sua jornada e apoia as que contam o que sofrem com o mesmo problema...




Apanhava do pai quando criança por não fazer as tarefas domésticas. 

Aos 15 anos, a violência veio de abordagens agressivas dos homens da vizinhança. 

Quando na Escola de Comunicação e Artes da USP e integrante da Aliança Libertadora Nacional sofreu estupro. 

Eu fazia teatro de protesto na rua, nas universidades e alguns espaços públicos, mas não participava do grupo que sequestrava ou assaltava bancos. Fui muito violentada nos Anos de Chumbo, na Ditadura Militar. Depois disso, achava que nenhum assédio poderia mais me abalar, poderia me derrubar. Foram dez anos dizendo ‘não’ a diretores e produtores porque eu queria um papel bom sem barganhar uma noite de sexo”, conta a atriz.

Em Patativa foi a “Roda de Fogo” graças ao ex-professor de faculdade e autor da trama Lauro César Muniz. “Eu era uma atriz de teatro em São Paulo, mas fazer uma novela na Globo era o ápice. Fui chamada várias vezes para fazer testes e eles até começavam mesmo com as leituras de texto, mas terminavam com uma proposta de um jantar ou de um encontro em um lugar mais reservado. Cada vez que isso acontecia, eu saia arrasada, frustrada e me sentindo violentada porque eu tinha certeza que era boa atriz com condições para entrar e ficar entre as estrelas da casa. Graças a Deus, tive um anjo que confiou no meu trabalho e me ajudou”, lembra.

Claudia Alencar ganhou dois personagens: Laura, em “Tieta”, e Perla, em “Fera Ferida”. E o assédio continuou só que de forma mais velada.



Me fingi de tonta várias vezes. Era diretor, ator, produtor, apresentador e empresário que vinham com aquele joguinho de sedução. Tive um colega de cena que me perturbou meses e, quando um dia eu cansei do cerco e dei um fora definitivo, ele passou a me perseguir, me humilhar na frente dos outros colegas. Ninguém me defendeu. Daí eu percebi que se eu quisesse continuar trabalhando, teria que fingir que nada acontecia e foi o que eu fiz durante uns 25 anos.”

Hoje, aos 66 anos, diz Claudia: “Não me surpreendo com as denúncias de assédio moral e sexual. Em qualquer lugar, uma mulher mais atraente, mais bonitinha é assediada. Sei de muitas profissionais que passaram o pão que o diabo amassou. Acho corajoso essas meninas falarem, darem os nomes, apontarem os dedos. É heroico, é encorajador e um alerta também para os homens: atitudes machistas estão com os dias contados. Não fiz lá atrás por medo, mas apoio incondicionalmente quem faz isso agora."


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