Apanhava
do pai quando criança por não fazer as tarefas domésticas.
Aos 15 anos, a
violência veio de abordagens agressivas dos homens da vizinhança.
Quando na Escola
de Comunicação e Artes da USP e integrante da Aliança Libertadora Nacional sofreu
estupro.
“Eu
fazia teatro de protesto na rua, nas universidades e alguns espaços públicos,
mas não participava do grupo que sequestrava ou assaltava bancos. Fui muito
violentada nos Anos de Chumbo, na Ditadura Militar. Depois disso, achava
que nenhum assédio poderia mais me abalar, poderia me derrubar. Foram
dez anos dizendo ‘não’ a diretores e produtores porque eu queria um papel bom
sem barganhar uma noite de sexo”, conta a atriz.
Em
Patativa foi a “Roda de Fogo” graças ao ex-professor de faculdade e autor da
trama Lauro César Muniz. “Eu era uma atriz de teatro em São Paulo, mas fazer
uma novela na Globo era o ápice. Fui chamada várias vezes para fazer testes e
eles até começavam mesmo com as leituras de texto, mas terminavam com uma
proposta de um jantar ou de um encontro em um lugar mais reservado. Cada vez
que isso acontecia, eu saia arrasada, frustrada e me sentindo violentada porque
eu tinha certeza que era boa atriz com condições para entrar e ficar entre as
estrelas da casa. Graças a Deus, tive um anjo que confiou no meu trabalho e me
ajudou”, lembra.
Claudia
Alencar ganhou dois personagens: Laura, em “Tieta”, e Perla, em “Fera Ferida”.
E o assédio continuou só que de forma mais velada.
“Me
fingi de tonta várias vezes. Era diretor, ator, produtor, apresentador e
empresário que vinham com aquele joguinho de sedução. Tive um colega de cena
que me perturbou meses e, quando um dia eu cansei do cerco e dei um fora
definitivo, ele passou a me perseguir, me humilhar na frente dos outros
colegas. Ninguém me defendeu. Daí eu percebi que se eu quisesse continuar
trabalhando, teria que fingir que nada acontecia e foi o que eu fiz durante uns
25 anos.”
Hoje,
aos 66 anos, diz Claudia: “Não me surpreendo com as denúncias de assédio moral
e sexual. Em qualquer lugar, uma mulher mais atraente, mais bonitinha é
assediada. Sei de muitas profissionais que passaram o pão que o diabo amassou.
Acho corajoso essas meninas falarem, darem os nomes, apontarem os dedos. É
heroico, é encorajador e um alerta também para os homens: atitudes machistas
estão com os dias contados. Não fiz lá atrás por medo, mas apoio
incondicionalmente quem faz isso agora."
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