segunda-feira, 23 de março de 2015

“Autobiografia Autorizada” escancara Paulo Betti...




Paulo Betti estreou, nessa quinta-feira (19/03), o monólogo “Autobiografia Autorizada”, no Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro. Tudo sobre sua vida.

Ele escreveu o espetáculo, baseado nos textos da adolescência e artigos semanais que escreveu por quase trinta anos para o jornal “Cruzeiro do Sul”, de Sorocaba, onde nasceu. Betti (62 anos) filho de camponesa analfabeta, mãe de 15 filhos (ele o décimo quinto), e pai, esquizofrênico, mesmo com tantos dramas, formou-se pela Escola de Arte Dramática da USP e foi professor na Unicamp.
O ator, autor e diretor, representa pai, mãe, avó e outros personagens da própria vida. Divide a direção com Rafael Ponzi. Muita emoção.



Paulo Betti se preparou a vida inteira para subir ao palco hoje. Como um bom colecionador de histórias, guardou na memória e em escritos os episódios vividos ou testemunhados na infância de menino pobre na Vila Leão, quilombo em Sorocaba onde ajudava a mãe Adelaide, empregada doméstica analfabeta, a passar roupas enquanto se encantava com os programas de rádio. Também lá, via o pai esquizofrênico, Ernesto, ser internado no hospício a cada véspera de Natal, com surtos amedrontadores. Mais tarde, quando se mudou para o Rio, com uns 30 anos, inaugurou um imenso e impressionante caderno, onde reproduzia, a mão, diálogos ao telefone com a família, sonhos lembrados com precisão, fatos acontecidos com vizinhos e conhecidos, numa espécie de Macondo do interior paulista que, não sabia então, ia tomando a forma de um espetáculo. São essas histórias recolhidas que compõem “Autobiografia autorizada”, que Betti, aos 62 anos, entrega generosa e despudoradamente ao público no teatro do Centro Cultural Correios.



Fagundes e a namorada Alexandra Martins prestigiando o Betti no teatro.



Minha filha Juliana (assistente de direção da peça, que Betti codirige com Rafael Ponzi) diz que a razão deste monólogo é rodar o pião em cena, e eu digo que é isso mesmo: quero reencontrar meu menino, seus sonhos, suas mortes, e quero trazê-lo à tona na encenação mais autoral de minha carreira, assinando o texto da peça. E o que quero com isso? Que o público pense em suas próprias experiências, nos seus antepassados e em como a memória é um estímulo delicioso, um fluxo que é só começar para não parar mais."...


Betti roda o pião em cena, mas não só. Roda arquinho, veste uma saia para representar a avó Celeste, “que mijava na porta de casa que nem uma índia peruana, em pé”. Imigrante italiana, veio menina da Itália, assim como o avô, um prometido para o outro. Pararam na roça, em Rafard, interior paulista, onde Paulo, 15º filho de Ernesto e Adelaide, nasceu. Mas ficou sendo o sétimo, já que oito morreram antes, ou imediatamente após a mãe dar à luz. Sétimo e ainda por cima temporão, teve destino diferente dos irmãos, todos operários:

Fui o carinha prometido para estudar — conta ele, que tinha 3 anos quando começou a viver as alegrias e as dores da infância em Sorocaba, onde a mãe, que ele descreve como uma feiticeira, fazia rezas que explicam a queda do ator pelo sobrenatural até hoje.

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