segunda-feira, 27 de agosto de 2012

YAWALAPITIS, ÍNDIOS DO ALTO XINGU HOMENAGEARAM O ESPÍRITO DO QUERIDO DARCY RIBEIRO




A aldeia Yawalapiti, no Parque Indígena do Xingu (MT), no domingo, dia 19, homenageou o espírito de Darcy Ribeiro. 
Depois de encarnar num tronco de árvore para se despedir e ser chorado pela família e amigos, ele subiu aos céus. Foi com o ritual do Quarup, que os yawalapitis, índios do Alto Xingu, homenagearam no fim de semana, um dos maiores defensores dos povos indígenas brasileiros. Darcy partirá da Terra, como fazem os mortos nas noites de eclipse, para roubar penas dos pássaros e adornar seus enfeites. Eu tive a chance de estar com ele há muitos anos e participar da cerimônia de despedidas dos seus mortos. Incrível.
Os índios recorreram à memória de Darcy Ribeiro, morto em 1997, para alertar os brancos dos perigos que rondam o Parque Indígena do Xingu e ameaçam suas civilizações milenares: “Homenageamos um grande homem branco, mas queremos que os brancos olhem para os índios, que respeitem nossos direitos e nossa terra, que é de onde vêm nossa comida e nossa cultura”, disse o cacique Aritana.....
Os yawalapitis, uma das 16 etnias do Xingu, são um povo saudável, que renasceu com a criação do parque. Eram apenas 19 índios quando foram reagrupados pelos irmãos Villas Boas, em 1961. Hoje, são quase trezentos, um terço crianças. O ciclo dos últimos 51 anos, da sinais de inversão na celebração. Não foi tarefa fácil pegar peixe suficiente para alimentar os convidados das aldeias vizinhas, muitos dos quais também já não puderam usar os rios para chegar ao local da festa: “Antes, a gente só usava os rios para andar entre as aldeias do parque. Agora, tivemos que abrir uma estrada porque tem lugares em que o barco não passa mais. O peixe, que é a base da nossa alimentação, também já não é tão farto. Muitos canais de ligação dos rios com as lagoas, onde eles se criam, ficaram completamente secos. Isso não acontecia até poucos anos atrás, mesmo no período sem chuva” conta Watatakalu, do Conselho de Mulheres yawalapitis e uma das articuladoras da manifestação durante o Quarup.
As limitações experimentadas pelos povos do Xingu refletem as pressões que se intensificaram na área em torno do parque. 
As fronteiras secas, mostram o desmatamento para o plantio de soja e a mata densa da área protegida. Nos limites dos rios, há pontos em que a margem oposta ao parque foi desmatada até a praia. 
A balsa de ferro, que até 2005 navegava por todo o parque durante o ano inteiro, está parada já há dois meses na margem do Tuatuari, rio que banha a Aldeia Yawalapiti, e só deve ganhar a água novamente em janeiro, no auge das chuvas.... "Essa balsa navegava pesada, levava até combustível para os aviões da FAB. Desde a construção de uma PCH (hidrelétrica de pequeno porte) lá na cabeceira, há três anos, ela passa a maior parte do tempo parada aí", afirma Pirakumã.
Mostra do que está por vir com o grande golpe nos direitos indígenas, maquinado em Brasília: a Proposta de Emenda Constitucional 215, que dá ao Congresso a competência exclusiva para estabelecer os limites das áreas indígenas e decretar a criação de novas áreas; a portaria 303 da Advocacia Geral da União (AGU), que exclui os povos indígenas das consultas sobre a realização de empreendimentos de interesse público em suas áreas; e as mudanças no Código Florestal, que flexibilizam as áreas de proteção permanente (APPs) e deixam vulneráveis os rios.
"A gente não pode nem pensar o que vai acontecer se essas coisas forem adiante. Quem diz que não vai acontecer nada é porque não conhece ou não quer ver", lamenta Pirakumã.
O horror que paira sobre os indígenas que foi capaz de unir as 16 etnias do Xingu. Todos os líderes do parque assinaram manifesto endereçado à presidente Dilma Rousseff, que foi lido na abertura do cerimonial do Quarup e deveria ter sido entregue à ministra da Cultura, Ana de Hollanda. Para não receber a carta, a ministra se escondeu em uma oca e, no dia seguinte, justificou-se dizendo que o documento tratava de temas alheios à sua área, a da cultura. Watatakalu discorda e é didática com a ministra: "A nossa cultura, a nossa tradição, a nossa vida é a nossa terra. Sem nossa terra e sem nossos rios não vai existir nada do que ela está vendo aqui, não vai existir cultura nem vai existir índio."....
A carta, marcada com o urucum da pintura ritual, foi recebida pelo senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que leu o documento no plenário do Senado e disse que vai entregá-lo à presidente Dilma......


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