domingo, 12 de agosto de 2012

ANA BOTAFOGO FELIZ DA VIDA E BEM RESOLVIDA








Ana Botafogo tem no rosto, as marcas do tempo, mas quando surge de mangas bufantes e laçarote sobre a trança como a Tatiana de Onegin, em cartaz no Municipal do Rio, o que vemos é uma adolescente do interior da Rússia do século 19, romântica e cândida. Ao som de Tchaikovski, se transforma numa mulher madura e ferida pelo desamor. O balé é o último do repertório clássico com a sua participação. Aos 55 anos não declarados, 36 como profissional dos palcos, ela está a um passo da aposentadoria do teatro, do qual é funcionária desde 1981 e um símbolo maior. 
A partir de agora, irá dançar coreografias criadas especialmente para ela, de menor duração. Ou dirigir montagens: "Não vou pendurar as sapatilhas. Posso até fazer um ‘pas-de-deuxzinho’ de vez em quando. Só não quero mais ser escrava da profissão. Considero Onegin a minha despedida do Municipal. Sou uma máquina que já foi muito usada. O desgaste nesse balé é o mesmo de uma menina de 20 anos, só que num corpo muito mais cansado. Melhor parar por aqui do que continuar e daqui a pouco apontarem: ‘Coitada, parece um saco de batata, devia ter se aposentado!’”
Ela pode fazer o que quiser no Teatro Municipal”, diz a diretora, Carla Camurati. “Sua relação conosco é tão estreita e especial que sobram possibilidades para se explorar.”
Depois do “violento” Onegin - em que Tatiana é jogada no chão, puxada, faz sequências de altíssimo grau de dificuldade -, virão passos menos desgastantes. “Mas não pensem que vai ser balé alternativo. Não vou dançar descalça.” Tem apresentações marcadas até o fim do ano pelo Brasil, alguns solos, criações de coreógrafos contemporâneos com as quais já vinha excursionando e palestras.
Ana Botafogo, no fundo, teme sentir saudades da rotina do Municipal. 

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