domingo, 17 de outubro de 2010

A volta de um ícone


Zalszupin.

Paula Rocha trás de volta em entrevista, o homem que revolucionou o design de móveis no Brasil Volta às pranchetas depois de 45 anos sem criar. Aos 89 anos de idade, Jorge Zalszupin está de volta ao trabalho. Após mais de quatro décadas sem conceber nenhum móvel, o arquiteto polonês, que aportou no Brasil em 1949, acaba de lançar uma nova peça. Feita a pedido da designer mineira Etel Carmona, a poltrona Verônica, uma homenagem à filha homônima, exibe as características que fizeram a fama de seu criador: traços curvilíneos, acabamento impecável e a escolha de nobres madeiras brasileiras.

Contemporâneo de ícones como Sérgio Rodrigues e Zanine Caldas, Zalszupin foi um dos fundadores do design moderno do País, ao trazer nos anos 1950 e 1960, propostas e desenhos inovadores, que fugiam da art déco francesa. Por isso, influenciou toda uma geração. Também por isso sua volta ganha relevância num setor em que o Brasil é hoje referência internacional. A época de criação mais intensa de Zalszupin, entre 1959 e 1969, foi marcada pela fundação do L’Artelier, estúdio de design que produzia artesanalmente móveis modernos e sofisticados. “Ele revolucionou o desenho moveleiro no País”, diz a arquiteta carioca Lia Siqueira. “Suas peças evidenciam a sensualidade brasileira, além de uma verdadeira intimidade e generosidade com a madeira”, diz o arquiteto Carlos Motta, cujo trabalho destaca-se pelo uso de madeiras nacionais.

O interesse de Zalszupin pelo Brasil surgiu por causa de Oscar Niemeyer. “Conheci o trabalho dele em uma revista francesa de arquitetura e pensei que aqui seria um bom lugar para jovens profissionais”, conta. Ao desembarcar em solo brasileiro, Zalszupin passou a projetar residências e móveis para clientes abastados, especialmente no Jardim Europa, em São Paulo. A partir de 1965 concentrou-se nas casas e em 1990 decidiu aposentar a prancheta de vez. A confortável renda conquistada durante anos de trabalho permitiu que o arquiteto partisse para um retiro de dez anos na França. A volta ao Brasil e à criação de móveis foi motivada pela saudade. “Durante 45 anos não tive vontade de desenhar nenhum móvel”, diz. Porém, a inspiração para a Verônica veio como um instinto e uma hora depois já tinha a peça pronta no papel.”

Uma das mais emblemáticas criações de Zalszupin, a poltrona Dinamarquesa, que completou 50 anos em 2009, foi também sua primeira peça a ser produzida em série e até hoje conquista compradores de todo o mundo. Reeditada desde 2004 pela loja Etel Interiores, seu valor varia de R$ 8 mil a R$ 12 mil. Como nem todos podem pagar esse montante por uma peça de reconhecido design e qualidade, as cópias não autorizadas se multiplicam em lojas de decoração pelo País. Questionado sobre o que pensa das versões piratas de sua Dinamarquesa, Zalszupin responde: “Como dizia Coco Chanel, ser copiado é o mais alto grau de reconhecimento.”

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